Escrevendo uma canção de adoração
28 de fevereiro de 2020Oração | Experimentando Intimidade com Deus | Timothy Keller
4 de março de 2020A oração e o louvor são dons espirituais que se desenvolvem quando damos continuidade a uma conversa que Deus iniciou por intermédio da sua Graça. No entendimento comum, nós procuramos a Deus através da oração. É uma forma unilateral de conhecimento sobre oração. Há, porém, outra informação que necessitamos considerar quanto a isto: não é o homem que busca a Deus, nunca foi, desde Gênesis a Bíblia ensina isto. Ainda que “busquemos” a Deus assim, Ele não exige que saibamos de teologia como regra para conversar conosco. Ele simplesmente conversa, ouve e fala. Alguns expositores insistem em que as ações do ser humano sejam ‘completamente’ corretas para Deus ouvir a oração de uma pessoa. Isso é impossível. A palavra ‘completamente’ denota que alguém seja irrepreensível. Tal ‘pessoa’ não existe. Entretanto para se cumprir uma promessa específica feita por Deus é imprescindível que aceitemos a suas condições, a primeira é obedecer a sua palavra. Essa é a diferença entre ouvir e aprovar.
Por isso a oração é ouvida, ela é uma conversa que Deus iniciou por meio de sua Graça. Essa conversa pode ser um alistamento para Sua causa como ocorreu com Saulo (At 9), ou um ajuste de propósitos como foi com Elias (1 Rs 19). Um alinhamento de direção como o de Jonas (Jn 4), uma revelação como a do profeta Isaías (Is 6), ou uma resposta como foi com Gideão (Jz 6.36-40). Uma pergunta como fez Abraão (Gn 18.23), uma dissertação como no caso de Jó (Jo 42), ou um questionário contendo alternativas como no caso de Davi ( 2 Sm 24.12). A oração foi iniciada por Deus, uma onda provocada pelo impacto da sua Palavra e Graça na história.
Oração Poderosa: conhecer a Deus é mais que saber a respeito Dele
Jó fez uma oração permeada de angústias e queixas, entretanto apesar de toda a reviravolta que ocorreu em sua vida ele nunca se afastou de Deus. Mesmo com essa proximidade, Jó se nega à vida que Deus propõe. O texto diz que os céus ficam tomados por nuvens e Deus fala com Jó de um redemoinho (Jo 38). O Criador revela como parte de sua criação conhecida é sustentada; o universo, constelações e do mundo natural. Deslumbrado com a sua insignificância em relação aos detalhes da grandeza do que lhe foi apresentado, Jó se humilha perante esta visão reveladora de Deus (Jo 40.3-5).
O resultado foi que a oração de queixas de Jó deixou de ser uma técnica para conseguir coisas e passou a ser uma confissão. Desta confissão à invocação e ao louvor (Jo 42). Sobre a intenção de nossa religião, é muito semelhante com o que praticamos hoje, nossas queixas e lamúrias muitas vezes não sinceras. São artifícios usados na tentativa de buscar uma resposta de Deus, e não uma aproximação verdadeira de entrega. Por isso grande parte dos nossos louvores não se torna em uma poderosa oração. São apenas um punhado de acordes, melodias e ritmos barulhentos para Deus.
Oração Poderosa: status didático da arte musical e da poesia
Note a forma que alguns cânticos que compomos nascem de uma vontade de louvar ou contar para Deus uma dor, uma angústia ou um desejo esperado. Mas quando este louvor se torna uma oração poderosa? A reposta é: Quando o louvor deixa de ser didático, teórico ou uma peça de arte poética ou musical comum e até extraordinária. É quando nossa alma transmite sua questão ardentemente. Lembro quando em parceria com um irmão querido fizemos uma canção cuja letra foi pensada no cenário da última Ceia de Jesus. Genericamente quando compomos falamos do nosso coração para Deus, mas esta canção dizia do coração de Deus para o nosso coração. A ideia da composição era reproduzir o teor do cântico que Jesus hipoteticamente teria cantado para seus discípulos enquanto partia o pão. Humildemente compartilho as primeiras linhas deste cântico:
Com amor eterno vos amei, dei minha vida por tanto querer, reparti o pão com todos os irmãos e sejam servos um dos outros. […] Na mesma mesa reparti o vinho, que o vosso amor se estenda mais e mais, que esperança traduza a paz, permanecei na graça do meu Pai, permanecei em mim. […] Sou o pão da vida sou teu vinho puro, sou o teu sustento sou o teu Senhor, eu compartilho da minha glória, pois hoje somos uma família.
Era um cântico que nascia com poesia e melodia, muito comum em nossas devocionais enquanto experimentamos acordes e tons antes de definir um louvor. Até que entrei no quarto para finalizá-la… Naquele dia a presença de Deus me fez entender. Foi por intermédio da simples contemplação e exercício imaginativo de como que Jesus poderia ter cantado semelhante cântico para seus discípulos naquela Ceia. Passei aquela tarde inteira chorando, eu tocava uma estrofe e interrompia meu trabalho, pois a plenitude daquela revelação me consumia de assombro, reconhecimento e amor. Eu pensava de como teria sido aquela reunião, qual palavra, quais olhares, as lágrimas e o clima?
Oração Poderosa: a sensibilidade dos diálogos de Deus para o homem, e do homem para Deus.
Senti naquele dia como um louvor se transformava em uma oração poderosa. Você pode dizer que no caso desta canção especifica não é uma oração, mas instruções cantadas. Sim, é verdade, mas é apenas parte da verdade. Porquanto pensar assim é quando se afirma que a oração é alguém tão somente pedindo ou contando suas dores e outras coisas para Deus. Contudo a oração é uma conversa que Deus iniciou por intermédio da sua Palavra em algum outro tempo, até mesmo antes do nossa época. Jesus como nosso intercessor está respondendo àqueles homens, aos discípulos, parte das orações de todas as épocas antes deles. Jesus estava trazendo a resposta das muitas orações que a igreja iria fazer muito antes dela mesmo nascer. Jesus respondia ali no texto de João 13 até o capítulo 17 as nossas orações que hoje fazemos. Se no presente momento nós cantamos assim: “Pra que o mundo reconheça que Jesus é o Senhor, para que a igreja cresça…” (Canção: O Pai iluminou. Daniel Souza), aqueles homens também cantavam alguns Salmos com semelhante conteúdo e apelo.
Por isso o louvor pode se transformar em uma oração poderosa quando contém partes de diálogos que Deus já iniciou em outros tempos como continuidade. Pode ser uma revelação da sua majestade e poder, ou do seu caráter que é a santidade e imutabilidade. Ou sua misericórdia e amor expressados em Jesus. Não haveria nenhum louvor se a Palavra não nos revelasse as características de Deus. Não existiria louvor se não conhecêssemos ao Senhor, ou a salvação. O louvor se torna uma poderosa oração quando a reposta deste louvor nos atinge, seja revelando mais de Deus ou uma expressão da nossa alma. O louvor atinge o status de poderosa oração quando nosso louvor possui nas suas linhas a lógica de um diálogo iniciado por Deus. A reposta desta oração poderá ser percebida na natureza, nas pessoas, na igreja, ou em acontecimentos inexplicáveis. O louvor se torna uma poderosa oração quando ele nos impulsiona para o futuro que Deus preparou.
Leia também: Quando o louvor se torna uma oração poderosa parte 2