SÓSTENES MENDES – ADORAÇÃO E JUSTIÇA
7 de maio de 2020ADORANDO INDICA ÁLBUM | JESUS | NÍVEA SOARES
9 de maio de 2020Recebi um convite para escrever a respeito do desafio de ser mãe e estar em família durante a quarentena. Confesso que quando recebi esse convite fiquei apreensiva, visto que grande parte destes desafios não foram por mim vencidos; eu sequer me adaptei totalmente a eles. Gostaria contudo de dividir um pouco acerca das minhas percepções , o que tenho vislumbrado e aprendido durante este período, que de tantas formas é tão distinto às pessoas, mas para os pais tem muitas coisas em comum.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Eclesiastes 3:1
Tempo de qualidade
Uma das coisas que percebi durante a quarentena foi: não tínhamos tempo de qualidade com nossos filhos.
Eu tinha momentos, sim, com eles, mas em suma era para atender suas necessidades básicas. Quando essas eram atendidas, eu estava por demais cansada para outras coisas, visto que eu trabalhava o dia todo e as noites eu passava sozinha com as crianças, pois meu marido trabalha no período da tarde e noite.
Quando começou o isolamento, precisamos ficar todos em casa. Algumas tarefas passaram a ser feitas online mas o tempo que estaríamos fora, no trânsito ou fazendo qualquer outra coisa, este tempo estava à nossa disposição. E não sabíamos o que fazer com ele. Nos primeiros dias, antes das crianças terem aulas online, nos desdobramos em várias tarefas ao mesmo tempo, sem coordenação, sem horário e ficamos perdidos. Aos poucos fomos nos adaptando, estabelecendo horários e buscando usar melhor o tempo.
O que semeamos na vida dos nossos filhos?
E foi nesse segundo momento que nos deparamos com outra realidade: nossos hábitos cristãos não são suficientes para formar nossos filhos.
Tenho me deparado cada vez mais com casos de filhos de famílias cristãs, adolescentes e jovens que, quando podem decidir o rumo de suas vidas, abandonam a igreja. Sempre me questionei do porquê isso acontece, e nesse tempo eu percebi algumas coisas.
Nós temos uma vida na igreja, e outra em casa. Nós estamos em comunhão com os irmãos, mas muitas vezes não temos comunhão no lar. Na igreja cantamos, levantamos as mãos e lemos a bíblia (com o pastor na pregação) mas não fazemos isso em casa, com nossos filhos. Vivemos uma vida paralela, na igreja somos crentes, em casa, vivemos a vida como qualquer outro mortal. Assistimos à TV, pedimos pizza, conversamos sobre trivialidades, ficamos com os olhos na tela do celular de 30 a 60% do nosso tempo (quero deixar claro que não tenho nada contra a TV, pizza e celular), só quero chamar a atenção para um detalhe: quanto desse tempo passamos fazendo as coisas de crente (que no caso de alguns de nós, nossos pais faziam, e por isso estamos aqui)? Quanto desse tempo passamos fazendo algo junto com eles, lendo uma história bíblica, debatendo assuntos diversos à luz das Escrituras, pregando o Evangelho, partindo do pressuposto de que nossos filhos não o conhecem (e na maioria das vezes, de fato não conhecem)?
As nossas atitudes falam mais que nossas palavras
Vivemos como se nossos filhos absorvessem nossas experiências cristãs por osmose, como se já tivessem nascido crentes. Terceirizamos o ensino bíblico às professoras da escolinha dominical (como terceirizamos todo o aprendizado deles aos professores da escola). Nos desviamos de assuntos polêmicos, como homossexualismo, aborto, divórcio e sexo. Quando conversamos sobre isso, na maior parte das vezes somos acusadores ou simplesmente ditamos textos bíblicos que caem retorcidos em seus ouvidos. Não é bom que seja assim.
De volta à essência
Eu percebi que passava muito tempo ocupada com a estética da vida, e não com sua essência. Percebi (e sei que não estou sozinha nisso) que eu queria que meus filhos estivessem limpinhos, com roupas fofas, cheirosos e comportados na igreja, mas não passava pela minha cabeça o que eles sentiam ao estar lá. O quanto estavam absorvendo da Palavra, o que estavam aprendendo com nossas práticas cristãs.
No lar, minha casa era um lugar adequado para receber pessoas; mas o quanto eu me preocupava se ele era adequado para que as crianças crescessem bem?
Alinhando nossos valores
Essas experiências me fizeram refletir, e junto com meu esposo estamos buscando outros valores dentro de casa. Não que já tenhamos conseguido grandes mudanças, mas reincluímos no nosso tempo as práticas de leitura, oração, debates à luz da Escritura. Estamos tentando substituir o tempo de outras atividades por jogos em família e hábitos que estreitem nossa conexão. Procuramos conscientizar sobre os benefícios de uma vida mais simples, e que precisamos viver focados no que nos é de fato necessário, não na superfluidade do que adquirimos apenas por prazer momentâneo.
Nessa quarentena estamos aprendendo:
- Não importa as roupas de marca, sapatos e bolsas, jóias e perfumes que adquirimos ao longo da vida. Se não os usamos em casa com os nossos, ou é porque não tinham importância alguma, ou é porque não era importante usá-los para os nossos.
- Passeávamos no Shopping mais para exibir nossos filhos com roupas bonitinhas e “parecer uma família feliz”, aguçando nosso consumismo e alimentando nossas vaidades, do quer tempo de qualidade com eles.
- Pratos e talheres guardados para visitas não fazem o mínimo sentido agora.
- Nossos filhos aprendem pelo exemplo, pela conexão emocional e pela experiência, não porque estamos gritando ou insistindo com eles.
- Aplicativos infantis são uma dádiva e um mal necessário ao mesmo tempo.
- Estar o tempo todo com os filhos não precisa ser uma tortura. Tudo melhora na medida que aprendemos a ser pais ao mesmo tempo em que eles aprendem a ser filhos.
- Nada substitui o tempo que passamos fazendo qualquer coisa com eles (não perto deles, como ver TV). Esta ultima conclusão aconteceu antes da pandemia, em fevereiro, no aniversário de 5 anos do meu filho mais novo. Nesse dia, depois de ter finalizado a festinha dele, acabou a energia, e ficamos algumas horas no escuro à luz das velas. Quando perguntei pros meus filhos o que mais gostaram na festa, ambos responderam unanimemente que fora quando estávamos no escuro, fazendo brincadeiras com a luz da vela, criando personagens com as mãos.
- Ora, se nada é tão bom pra eles quanto o tempo que podemos disponibilizar, que grande privilégio o isolamento social nos apresenta! E que oportunidade maravilhosa para reinserir práticas cristãs outrora perdidas e “ensinar nossos filhos no caminho em que devem andar, para que ainda quando forem mais velhos, não se desviem dele.” Provérbios 22:6.
Por: Luciana Fratelli