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15 de novembro de 2018
Tenho observado muitas formas de se tocar teclado, creio que existem diversas formas de produzir sons lindos, muitas técnicas diferentes de execução, porém o meu desejo aqui é disponibilizar algumas dicas a respeito de estilos e técnicas de grupo, no que diz respeito ao teclado. A formação de uma equipe musical conta com três pilares básicos: Instrumento harmônico, rítmico e melódico. Classificam-se como harmônicos os instrumentos responsáveis pela base musical que completa a melodia. São os teclados, violões e em alguns casos, a guitarra. O contra-baixo também é um instrumento de suplemento harmônico, responsável por enfatizar o grau mais forte da harmonia, o I Grau. Nota-se que tanto no piano, teclado como no violão, executa-se mais de uma nota ao mesmo tempo. Isto é a harmonia, a combinação de dois ou mais sons simultâneos.
Os instrumentos rítmicos são em sua maioria reconhecidos como bateria e/ou percussão. Na realidade, todos os instrumentos possuem, além de sua propriedade principal, a capacidade rítmica. Isso esclarece que, não necessariamente, a bateria ou percussão é um instrumento insubstituível ou essencial.
Os instrumentos melódicos são responsáveis pela execução de sons sucessivos, como o tema musical. São em sua maioria instrumentos de
sopro, incorporando inclusive a voz. A guitarra muitas vezes pode tornar-se um instrumento melódico, quando num solo, porém ela funciona na maioria das vezes como suplemento harmônico, tal qual o contra-baixo, só que trabalhando mais notas simultâneas.
No caso do teclado ou piano, funciona da mesma forma. Ele tem a facilidade de trabalhar melodia e harmonia simultaneamente, dada a sua estrutura. O fato de ser um instrumento tão explícito em sua apresentação, acaba por originar alguns “perigos” quando utilizado num grupo de dois, três ou mais instrumentos. Gostaria de relacionar aqui alguns destes perigos e também algumas dicas que julgo importantes para um desempenho relativamente melhor:
1 – O teclado é um instrumento completo em si mesmo, porém, existe um suplemento rítmico, harmônico e melódico trabalhando com você.
O fato de termos esta facilidade em tocar ritmado, completamente harmonizado e ainda assim, fazer soar a melodia musical, torna o teclado um dos principais “poluentes” das equipes de louvor. Num grupo com violão e teclado, a coisa fica ainda mais confusa. Nota-se no tecladista um empenho em “preencher” os espaços, ou simplesmente, ele toca como se estivesse sozinho. Se existe um instrumento ritmado, como por exemplo o violão, a possibilidade de eles se cruzarem é muito grande. Quando o tecladista deseja fazer ritmo, é necessário que haja um entrosamento entre ele e outro instrumento harmônico e rítmico. Vale lembrar que a bateria responde muito bem a esta necessidade de marcação. A junção destes instrumentos básicos visa facilitar o papel de cada instrumentista, a fim de libera-lo a fazer algo mais arrojado. Lembre-se de que, em alguns momentos, não se faz necessário ritmar a canção, basta apenas proporcionar a harmonia para que os outros tenham base pra criar. Observo também que, mesmo quando o tecladista não faz ritmo o tempo todo, alguns “adiantam” o tempo musical, sempre dão aquele “toquezinho” antes do tempo, antes do acorde. É bom que o teclado tenha uma dinâmica e um movimento na música, mas precisamos tomar cuidado com pequenos vícios como este. Alternar em “adiantar” e tocar na “cabeça” do tempo deixa o som mais limpo e mais agradável.
2 – O teclado tem muitos recursos e muitos timbres. Ouse arriscar.
Muitas vezes limitamos nossa forma de tocar. Acabamos por utilizar apenas pianos, órgãos e não exploramos outras possibilidades no instrumento. A formação de banda como bateria, baixo, violão e teclado, deixa o tecladista mais livre para utilizar efeitos como “pads”, “synths”, sons “vetoriais” e “camas vivas” – sons vetoriais são sons que vão crescendo sofrem alteração na dinâmica; camas vivas são sons com “barulhinhos” movimento constante. É claro que até mesmo para utilizar estes recursos faz-se necessário muito bom senso e bom gosto, mas nada impede de experimentar estes recursos nos ensaios, procurar fazer algo diferente e buscar a opinião de todos. Uma das coisas que ajudam muito é ouvir grupos musicais de diferentes estilos e procurar observar o que o tecladista está fazendo. Isto acaba sendo também um banco de idéias, mas não pode ser o nosso fim, para nós cristãos é necessário também buscar um som inspirado pelo Espírito, algo do trono de Deus e procurar trazer isto aqui para a terra. Não precisamos “mistificar” tudo, mas também não podemos perder o nosso foco, que é viver no sobrenatural de Deus.
3 – Eu posso saber, mas não preciso mostrar tudo o que sei.
Uma das coisas que observo muito, nos músicos em geral, é o desejo de tocar algo muito bom, muito bem elaborado. Não há nada errado em fazer tudo com excelência, porém é preciso ter um equilíbrio, como em tudo na vida. Alguns tecladistas são tão bons, tão bons, que não dá pra não nota-los numa equipe. Eles sempre têm frases rápidas, deslizam os dedos nas pentatônicas e “pentablues”, fluem ininterruptamente, re-harmonizam com habilidade e marcam tudo com um toque de sofisticação indiscutível… e são uns chatos. Por quê? Simples! Eles não dão espaço pros outros instrumentos, “quebram as pernas” dos vocalistas, puxam a banda pra eles e acabam por roubar a cena. É claro que isto não é geral, mas acontece muito com bons músicos, e com outros instrumentos também, como a guitarra, e com muitos cantores. Acredito que faz-se necessário buscar um equilíbrio, para que a linguagem musical possa ser “digerida” pelo público em geral, principalmente se este público for a congregação. Existem muitas propostas musicais, mas estas dicas referem-se ao louvor congregacional. Cuidado pra não tocar ou arranjar algo que não possa ser absorvido pela média geral das pessoas que estão participando da ministração. Lembre-se de que somos um canal para as pessoas focarem em Deus, mas se não tivermos uma linha de comunicação que possa ser entendida, este foco fica debilitado. Ainda que toquemos bem nosso instrumento, precisamos ter o bom senso de usar o “virtuosismo” em momentos específicos, saber a hora de “descer” aquela escala, de colocar aquele acorde de passagem, pra que a canção não perca a naturalidade. Às vezes, é bom saber tocar simples, quando a mensagem é simples, às vezes pode-se tocar muito bem, utilizando recursos avançados, deixando tudo com uma aparência simples, limpa e clara. Busque discernimento na hora de tocar com a equipe, sempre ouvindo os outros músicos, procurando saber o que eles estão fazendo, pra não “cruza-los”, ou “soterra-los” no meio da música.
4 – Cuidado com os estilos. É bom lembrar que alguns estilos pedem comportamentos diferentes de cada músico.
Num grupo cujo perfil encaixa-se bem no pop-rock, cuidado com timbres como “strings” e pianos elétricos. O piano acústico combina mais com o estilo e os “pads” encaixam-se melhor pra dar aquela “liga”. No “soul” os pianos elétricos encaixam-se melhor, e órgãos são sempre bem vindos. Os metais são um recurso muito bom neste tipo de música e os strings são muito bonitos no rock melódico. Claro que não podemos limitar a criatividade nem podar as idéias. Quebrar padrões é muito bom, mas tomando aquele cuidado com o bom senso e com a ética musical. Não podemos esquecer que a música é uma linguagem, e precisa ser inteligível. Procure observar os estilos e passe-os pelo filtro do Espírito. Esteja aberto mas seja também prudente.
Observações importantes: – Cuidado com a mão esquerda no teclado. Tocar notas muito graves ou “oitavar” o I Grau na mão esquerda deixa a música muito pesada e “cruza” o contra-baixista. Procure tocar na região mais médio-aguda do teclado;
– Cuidado com o pedal de sustentação. Sempre “respire” o pedal para que o som não fique embolado;
– Cuidado pra não re-harmonizar as canções sem levar em consideração o backing-vocal. Lembre-se de que eles abrem harmonias pré-estabelecidas e a modificação de alguns acordes pode desaprumá-los.
Seja sempre flexível e aberto a mudanças.