Livro teologia bíblica da adoração
20 de maio de 2020Adorando Indica álbum | Laura Souguellis | Fornalha Dunamis
22 de maio de 2020Organizando o Ministério de Louvor
Então, levantarás o tabernáculo conforme o modelo que te foi mostrado no monte. Êxodo 26:30.
Somos cercados de ideias revolucionárias que desafiam nosso comportamento e espiritualidade. O tempo presente é tão singular que permanecemos apenas instantes sobre um conceito estrutural de funcionamento do ministério de louvor. Há aqueles que defendem a exótica ‘liberdade’ de condução e expressão na adoração. Isto ocorre por causa do receio da ameaça de um estado uliginoso provocado pela ‘organização’. Em contrapartida a essa autonomia há outros tantos que escolhem se resguardar na premeditação. Delineando previamente todos os projetos e ações no ministério de louvor. A finalidade deste estudo – Ministério de Louvor Organizado – é direcionar a utilização dos benefícios de ambas correntes de pensamento como vantagem. A fim de servir ao propósito existencial do ministério de louvor e adoração.
Existe em nós um movimento interior que sabota nosso melhor desempenho. Ele suaviza e descontinua o fluxo de força que estamos empreendendo num determinado projeto. Esse fenômeno pode ser desencadeado em uma atividade ordinária do dia-a-dia. Por exemplo: Quando estamos treinando uma música, observe como muitas vezes interrompemos um exercício antes de chegarmos ao nível superior e máximo na execução. Optamos pelo aceitável, e julgamos razoável, cessamos o treino e afirmamos: – Isso já está bom! Note que a classificação ‘bom’ é uma interpretação pouco segura que aquela música está irretocável. Porquanto é baseada numa opinião particular que seguramente é influenciada por este dispositivo interruptor.
O ser humano por natureza desenvolve excentricidades relativas às características de sua personalidade predominante. Isto provoca atitudes que influenciam nos resultados dos projetos pessoais e também naqueles que se está vinculado. Sejamos francos, a maior parte das músicas e louvores que ‘tiramos’ para tocar ou para louvar não podem ser classificadas como excelente. Pois o projeto que estamos comprometidos determinará o empenho ou assiduidade que desprenderemos para executá-lo. A prioridade que uma tarefa ocupa na minha escala de valores canalizará maior ou menor quantidade de força.
Organizado demais
É pouco provável que uma vida organizada demais não venha experimentar específicos efeitos colaterais. Alguns em curto prazo e outros em longo prazo. Alguém que age assim exige que se programe uma simples ida ao cinema com a família. Desta maneira frustrará a espontaneidade dos filhos menores. Nossos filhos sempre nos surpreendem por um desejo provocado por um impulso legítimo, infantil e belo. Este perfil, ‘ser organizado demais’, ocasionará ressentimento nas emoções dos filhos. Alguém organizado demais pelo seu próprio dispositivo pessoal de regras rejeitará a experimentação. Pois já está assinalado em seu interior o comando que tudo deve ser planejado.
O componente extremo que distingue o que vivenciamos com Deus é a ‘ação inesperada’! A ‘manifestação súbita’! De repente Deus falou para Abrão que mudaria seu nome para o que viria a ser a sua experiência pessoal com Deus (Gn 17:50). O patriarca teve seu primeiro contato com Deus narrado na bíblia muito antes de ter a informação que teria seu nome mudado (Gn 12:1). Ele apenas obedecia, e no caminho da adoração ele experimentava o resultado de cumprir o que Deus havia projetado. Sem aviso Gideão foi visitado (Jz 6:11). Sem nenhuma anotação na agenda, Davi foi ungido rei (1 Sm 16). Embora estivesse nos planos de Deus ou ainda Dele em parceria com um servo seu, o destinatário foi surpreendido. Pondere o quão organizado era a vida destes personagens? Não tanto que pudesse trazer impedimento de terem suas experiências com Deus.
O excesso de organização foi o que deixou um discípulo de Jesus impedido de crescer com Deus. Mateus 8:21 “E outro dos discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai.” Este discípulo organizado demais perdeu uma oportunidade, talvez a única da sua vida! Em ordem de sucessão a palavra ‘primeiro’ denota posição ou ordem de tarefas. Se eu romancear este versículo ele se aproximaria disso: “Primeiro eu vou fazer o que já está rigidamente planejado, depois eu vou experimentar o que Deus tem para minha vida.”
Leia também: Organizando os ensaios do grupo de louvor.
Liberdade demais
A liberdade é um estado que deseja a nossa alma. A maior parte da tradição filosófica define que a liberdade está ligada principalmente à vontade, ao deleite de decidir. A liberdade seria vivenciada no interior do homem. A atividade da liberdade promove em nós um prazer interior causado por realizar o que temos vontade de fazer. De fato, o poder da liberdade seduz nosso ser inteiro. O homem tem um currículo catastrófico desde sua criação relacionado à autonomia. Porém o Senhor conhecia Adão e sabia que ele possuía a capacidade para dar nome aos animais. Mesmo sem receber ajuda de Deus, Adão teve a liberdade para nomear os animais; “… e trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria…” (Ge 2:19).
Este é o princípio da interdependência, que é a condição de duas pessoas ligadas entre si pelo equilíbrio de correlação solidária. Elas realizam as mesmas finalidades pelo auxílio mútuo recíproco de dependência. Na organização do ministério de louvor, Deus nos inspira para ver como realizamos as tarefas relacionadas ao nosso chamado. Temos a liberdade através de decisões sucessivas alcançarmos resultados positivos e de valor ou de causar efeitos desastrosos.
O excesso de liberdade resulta naquilo que abundantemente lemos na bíblia. Saul tinha a liberdade de governar, mas não de sacrificar (1 Sm 13:6-9). Davi possuía o ‘Direito real’, até mesmo Deus afirmou isso: “Eu lhe dei o reino e as mulheres dele; tornei você rei de Israel e de Judá. E, se isso não bastasse, eu lhe teria dado duas vezes mais” (2 Sm 12:8). Contudo o Direito real ou a ‘liberdade real’ não lhe caberia possuir mulheres casadas. Cada líder de ministério possui sua liberdade e isenção para algumas obrigações. Ele tem o dever de produzir determinado trabalho e é desobrigado de outros. Porém a nossa natureza humana suspira em agir em plena escolha. Ela luta em nosso interior forjando argumentos persuasivos para legitimar a compulsão de banquetear-se no prazer de fazer o que quiser. Livremente, sem limites, sem regras. Uma autocracia de princípios relativos.
A ‘liberdade demais’ não é uma trilha aplainada que leva ao ministério de louvor organizado em cumprir sua missão.
Clichês da liberdade e a insensibilidade da organização
Os exemplos de textos bíblicos que optei para explicar verdades espirituais não foram postos aqui por acaso. Eu tenho a liberdade de escolher, de preferir, porém, há uma organização de palavras e ideias. Não posso produzir um texto razoável sem pesquisar. Mesmo que eu tenha como escritor a experiência para escrever, eu preciso usar as ferramentas da gramática (Organização) e a inspiração (Liberdade) do Espírito Santo. E reabastecer a minha mente com múltiplas referências para através do repertório aprendido expor amplamente minhas ideias. Devo escrever e depois reler diversas vezes. Com isso dar tempo para que os conceitos documentados sejam testados pela autoavaliação até ganhar o máximo de sentido lógico. Não posso simplesmente escrever e enviar meu texto sem uma peneira autocrítica séria e fria. Com o serviço do ministério de louvor preciso usar semelhante exigência.
Nossos louvores podem ser apresentados a Deus espontaneamente, unicamente provocado pela vontade de improvisar algo e oferecer. Contudo periodicamente e não de vez em quando temos que organizar o motivo, os critérios e a sucessão. O conceito melhor explicado sobre a missão In loco do ministério de louvor é que: A congregação está se apresentando para Deus, dirigindo a Ele a melhor e mais rebuscada arte. Portanto esta arte precisa obedecer a parâmetros de qualidade antes de partir da congregação e chegar a Deus. A desorganização promove um louvor relativo, aquém do que poderia ser, e certamente inferior ao que Deus merece e espera. Por um momento pense: E se aquele que ministra a Palavra improvisar uma mensagem todas as vezes que subir ao púlpito? Certamente em poucas reuniões nos sentiríamos enfadados de ouvi-lo proferir uma série de repetições. E Deus? Ele não se entediaria dos mesmos clichês nas frases de louvor? E o confortável acorde de Sol maior ao estilo Folk no violão, e os mesmos Riffs na guitarra? A frase ‘Santo, Santo, Santo’ dita pelos seres celestiais nos textos não é base para essa repetição.
Não conseguimos em nossa liberdade apresentar sem sermos repetitivos para Deus. Toda liberdade incorre na improvisação, é inevitável que de tanto improvisar sejamos recorrentes, isto é, repetitivos. A organização permite a análise e autocrítica. Todo senso de liberdade receia limites, porém a organização amplia os horizontes da liberdade. Dentro da organização se põe a liberdade.
Diga-me, como podemos dizer e praticar “cantai ao Senhor um cântico novo” sem haver a liberdade do uso da criação espontânea? A insensibilidade da organização sem a maleabilidade fará enrijecer os músculos da criatividade. Que possamos antes nos debruçar em cima de uma planilha que nos ajude a reabastecer nosso tanque musical de conhecimento de acordes e ritmos. E após isso vamos nos aproximar de Deus e pedir que o Espírito Santo nos dirija em liberdade. Isto após o tempo que passamos ouvindo e aprendendo. Ademais nós como músicos notamos bem quando algo é elegantemente improvisado ou se é uma combalida e limitada expressão musical. Imagine então o Músico dos músicos?
Disciplina da liberdade
Uma qualidade evidente dos músicos é a disciplina. Sim! Músicos são disciplinados! Retiro desta observação os preguiçosos. Alguém que é preguiço não consegue crescer na música, então está fora desta colocação. Uma das atividades relacionada à música que eu mais fiz na minha vida foi ensaiar. Mais até que ler a bíblia, com certeza! Porém praticar a bíblia vinte quatro horas por dia. Disciplina para estudar cinco horas no violão, seis horas no contra baixo, horas e horas no teclado e etc. Para isto é necessário ter muita disciplina. Observe como os músicos apresentam naturalmente esta qualidade. Se você estuda por horas seu instrumento, então você é disciplinado.
Contudo eu mesmo não sou muito organizado. Mas sou determinado e disciplinado. Devemos utilizar esta qualidade como benefício. Empregar esta valiosíssima característica para aperfeiçoar nossa relação com o ministério de louvor organizado. Em 2 Coríntios 3:17 diz: “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” A liberdade positiva nunca se relaciona com a ausência de disciplina. Pois que a própria bíblia refere-se o texto radical de Jeremias 48:10 como uma denúncia de ‘encantamento’, que é; alguém relaxado com as coisas de Deus está na verdade sob efeito de feitiçaria. A bíblia descreve que a rebeldia é o princípio ativo da feitiçaria. Muitas vezes a pretexto da liberdade se esconde a indolência.
Talvez para aqueles que defendem a liberdade total em Deus no ministério de louvor é uma tendência impulsiva rejeitar um trilho. Porque para eles colocar limites é como uma censura impositiva vinda dos que naturalmente são organizados. Para os organizados, rejeitar limites é a insistência tola da vontade da natureza humana de ser naturalmente desorganizado. O maior evento após a ressurreição foi o pentecostes narrado em Atos 2.2, o texto narra: “De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.” Note: “de repente”. Súbito, livre, mas não desorganizado. Foram distribuídas línguas, e cada um livremente manifestava o que o Espírito Santo repartiu a cada um.
Antes de tudo eles foram orientados a que seguissem um trilho e este foi: “…determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes.” Atos 1:4. Se não houver o governo do Espírito Santo como podemos oferecer um culto completo ao Pai?
Ministério de Louvor Organizado: Conclusão
Moisés ouviu de Deus que deveria se restringir ao “modelo que foi mostrado no monte.” A liberdade em Deus somente pode ser aceita por Ele se existir direcionamento Dele. A organização e a estrutura devem servir ao propósito de existência do ministério de louvor na igreja. A organização e o planejamento não farão a espiritualidade eclipsar, se antes de tudo nós ouvirmos um direcionamento de Deus. Aos que defendem a organização, e aos que defendem a liberdade: Precisam saber que aos dois lados é exigido o exercício da renúncia, sem a qual não há adoração, pois adoração é renunciar nossos ídolos. Se, gabar-se da ‘organização’ for um ídolo irrenunciável, esta adoração não é apropriada. Da mesma forma, se a corrente da ‘liberdade em Deus’ vangloria-se de modo irrenunciável, também se encontra contaminada. O equilíbrio é o que o Espírito Santo anseia frutificar em nosso interior, assim nascerá uma adoração centrada e dirigida por Deus.