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13 de outubro de 2017Cinco desafios de uma família no campo missionário
Neste texto gostaria de compartilhar sobre os cinco desafios de uma família no campo missionário, a partir das nossas próprias vivências. Espero poder contribuir para sua edificação no chamado de Deus para sua vida e família
Era abril de 2013, tínhamos 3 meses de Índia somente e fomos participar de um Retiro para Missionários Latinos em GOA/ÍNDIA. Era uma oportunidade de descanso, partilha e conexão com outros missionários. Ali tinha gente do Brasil, USA, Bolívia, Uruguai e Argentina. Durante um dos períodos de compartilhar sobre nossas necessidades, minha fala foi: “Não estou com saudades do Brasil, estou feliz demais com tudo que temos vivido e sabemos que a Índia é nossa casa e por isso não estamos com falta de nada.”
Ah, se eu soubesse como essa fala iria ecoar na minha mente 3 anos depois. No final desse tempo, o último a falar foi um missionário americano que estava com sua esposa na Índia há mais de 20 anos. O que ele disse na ocasião refletiu a realidade missionária: “Eu não sou tão espiritual como alguns companheiros, disse brincando, todos os dias sinto falta do Texas, da comida de lá, de meus amigos, da minha família.”
Com esse pequeno testemunho, quero expor aqui alguns desafios vividos por nós, uma família missionária, estando em missões no campo transcultural (não importa se acabamos de chegar ou estamos nele há mais de 20 anos). Esse artigo de modo algum pretende ser exaustivo, são desafios reais vividos por nós, compartilhados para que você que aspira à transculturalidade missional ou que não ouviu nada parecido de algum missionário, possa se conectar com essa realidade.
1. Fluência no Idioma
Desembarcar em um campo como Índia onde existem 16 línguas oficiais, e mais de 1.500 dialetos, foi como desembarcar em outro planeta. Todo aquele que intenta viver nas nações deve se dedicar ao estudo prévio da língua local e ao menos a fluência do Inglês. Quando falamos com os locais em sua língua nativa, mostramos que nos importamos com eles, trazendo um sentimento de pertença àquele lugar, abrindo, assim, portas inimagináveis com aqueles que pretendemos alcançar. Como a língua é uma representação simbólica da forma de ver o mundo, conhecê-la permite também uma compreensão e, portanto, imersão mais rápida e profunda da cultura local.
2. Diversidade Cultural
Qual é a pessoa que não ama sua cultura e seu país? Em geral, nós brasileiros somos afetuosos, um povo conhecido pelo seu calor e sua paixão por demonstrar seus afetos publicamente, e qual o problema nisso? Em determinados países isso é mal visto e irá afetar seu trabalho missional, sendo interpretado como uma afronta à cultura local. Com essa pequena ilustração, começo a chamar atenção para um ponto crucial para seu sucesso no campo transcultural: a adaptação cultural. Essa adaptação confronta nossos paradigmas, coloca em cheque nossas certezas e algumas vezes nos fazem pensar: O QUE ESTOU FAZENDO AQUI? Não somos chamados a implantar um “pequeno Brasil” em outro país, somos chamados para ser embaixadores de Cristo e do seu Reino. Cada nação tem sua cultura, sua forma de se vestir e de se portar. Mesmo nossa forma de interpretar a Bíblia está influenciada por nossa cosmovisão, ou seja, nossa bagagem cultural. Assim, toda expressão cultural que não conflita com os princípios de Deus, deve ser mantida, pois entendemos que foi o próprio Deus quem a criou. No entanto, até entendermos isso, sofremos diariamente para compreender que o que o nativo faz não é errado e sim diferente. Deus é o Deus da multiforme GRAÇA e ele ama nossas diferenças, pois elas nos fazem únicos perante Ele.
3. Desencorajamento e Frustração por resultados (ainda) não alcançados
Esse talvez seja um dos pontos mais delicados desse artigo, uma vez que ao deixarmos nossa nação para um trabalho missionário os resultados são esperados tanto por quem envia (IGREJA), como por quem está sendo enviado. Nesse nosso tempo nas nações, conseguimos ver claramente como é perigoso para a saúde física e emocional do missionário as expectativas mal interpretadas e a busca incessante por resultados. Ao chegar ao campo, romantizamos tudo e não achamos problemas em nada. Cremos que tudo irá ser perfeito e esquecemos que para que vidas sejam tocadas e alcançadas há um processo e muitas vezes o processo é lento. Não há problema nisso, quando as expectativas estão ajustadas. Não seja aquele que irá buscar números para que seus mantenedores e sua igreja veja, pode ser que você tenha que gastar anos para entender a cultura local, estabelecer conexões e ai sim ver o fruto do seu árduo trabalho. Não se frustre com situações passageiras, o tempo é de Deus e não nosso (Colossenses 3:23-24).
4. Solidão
Quando falamos a palavra solidão, nos assustamos pelo peso que ela carrega. Porém, a vida missionária transcultural exige nos movermos a um lugar antagônico e de renúncia. Muita gente ao seu redor, devido ao trabalho e a solidão de ter deixado família, amigos e um país que você chamava de seu. Esse lugar nos forja e nos ensina a importância dos relacionamentos. Tanto daqueles que deixamos no Brasil, como os que faremos em nossa nova casa. A distância também nos afasta do convívio com a igreja local, nossos pastores, líderes e grupo com quem nos relacionávamos, por isso a importância de um canal direto de comunicação com aqueles que amamos. A tecnologia de hoje facilita pra que esse problema diminua, mas não há Skype, FaceTime, Facebook e WhatsApp que atenue a falta de quem amamos, os feriados já não serão mais os mesmos, os almoços de domingo, a casa dos avós, as reuniões com os amigos que deixamos em nossa Terra Natal. Mas o fantástico disso tudo é a novidade que Deus nos dá, nos permitindo sermos parte de uma nova família, fazendo novos amigos, vivendo novas experiências e cumprindo o Ide do Senhor.
5. Finanças
Cremos que Deus é o dono de todos os recursos e é Ele que nos sustenta. Há vários fatores que colaboram pra enfrentarmos desafios nessa área, seja a falta de comunicação do missionário para com seus mantenedores, através da sua carta mensal informativa, vídeos e outras formas, má administração dos recursos, ou mesmo a falta dos recursos por quem enviou. Uma boa comunicação entre ambos permite que tal desafio seja sensivelmente diminuído e quem sabe até inexista. Deus é o Deus provedor e nisso cremos e vivemos, experimentando a sua abundância para que sobre outros possamos derramar da boa medida, sendo socorro e provisão para a nação e povo que servimos e entregamos nossos melhores dias.
Em todos os desafios enfrentados dia-a-dia experimentamos um profundo amor, misericórdia e favor do Senhor. Nenhum deles é maior que o Deus que nos chamou e enviou. A conclusão é que VALE A PENA! Todos os desafios serviram para nos forjar e nos tornar cristãos melhores, prontos para entregar o que for necessário por amor a Cristo nas nações. Fica aqui meu encorajamento para que você se envolva com missões e os missionários, orando, intercedendo, os encorajando e os mantendo financeiramente. Aos que aspiram a vida missional transcultural, se prepare, estude, invista tempo no preparo para que Deus te use plenamente naquilo que Ele te chamou a fazer e ao passar esses desafios você possa sorrir e dizer: DEUS É BOM O TEMPO TODO.
Que Deus os abençoe,
Leo Burg