Quão Pervasiva e Prática é a Beleza de Deus?
14 de março de 2017Curso de Adoração do Instituto Adoração & Adoradores
17 de março de 2017O cristianismo é uma fé cantante. Esta é uma das principais características pelas quais os seguidores de Jesus são conhecidos, tanto através dos tempos quanto agora em todo o mundo. Enquanto a proporção do canto tem variado ao longo do tempo e de lugar para lugar, a maioria das igrejas hoje dedica cerca de um terço do tempo de seu encontro para o canto congregacional e investe uma quantidade considerável de tempo, dinheiro, esforço e energia para o lado musical de vida da igreja.
Mas por que cantar? O que é que o nosso canto realiza? Quais efeitos ele cumpre? Segundo as Escrituras, Deus tanto criou quanto nos chamou para cantar por três razões principais: para nos ajudar a louvar, para nos ajudar a orar, e para nos ajudar a proclamar. Vejamos cada uma dessas razões.
1. Cantar nos ajuda a louvar
Não há como escapar do fato de que o canto é uma forma vital de louvor. Muitas Escrituras (particularmente os salmos) confirmam isto. Não só elas ligam o louvor diretamente com o canto, mas elas também freqüentemente falam das dimensões verticais e horizontais de louvor, adoração, e declaração, praticamente ao mesmo tempo. Considere, por exemplo, os quatro versos de abertura do Salmo 96:
Cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR, todas as terras.
Cantai ao SENHOR, bendizei o Seu nome; proclamai a sua salvação, dia após dia.
Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas!
Porque grande é o SENHOR, e mui digno de louvor, temível mais que todos os deuses.
Enquanto louvar não se reduz a cantar, o ponto deste e de outros salmos não poderia ser mais claro. Cantamos ao Senhor, bendizendo o seu nome, e nós cantamos do Senhor, declarando a sua glória. E, é claro que, muitas vezes (se não sempre) fazemos as duas coisas ao mesmo tempo. Porque até quando estamos cantando sobre o Senhor para os outros, ele está presente para receber o seu louvor. A importância de cantar louvores de Deus é evidente a partir do número de vezes que é ordenado nas Escrituras (por exemplo, Ex 15.21; Sl 147.1, 7; 149.1, 5; Sf 3.14; Zc 2.10; Tg 5.13). É certo que a maioria dessas exortações é encontrada no Antigo Testamento, particularmente os salmos. Mas, dado que o apóstolo Paulo espera e exorta os cristãos a cantar os salmos (Ef 5.19; Cl 3.16), esses mandamentos têm claramente relevância permanente.
Tais mandamentos são necessários, porque o louvor sincero nem sempre é fácil para o povo de Deus. Na verdade, existe uma variedade de forças posicionadas contra nós (celestiais e terrestres, externas e internas), que procuram nos desviar de dar o louvor devido a Deus, que é seu por direito e deve ser dado a ele em todas as circunstâncias, não só com o nosso viver, mas também com os nossos lábios, não apenas no discurso, mas também na música. Então, a menos que estejamos alertas para esse perigo, é muito possível roubar de Deus o seu louvor, talvez porque tememos parecer tolos, ou tememos o que os outros possam pensar de nós, ou pensamos na nossa voz. O resultado de ser governado por esses medos é que temos a tendência de “ficar de boa”, amordaçar a nossa gratidão, conter nosso entusiasmo, e (talvez) até mesmo não se identificar com as palavras que estamos cantando.
Claro, o antídoto não é ignorar aqueles que nos rodeiam pouco nos preocupando com como os afetamos. Na verdade, é da vontade de Deus que olhemos para os outros e esforcemo-nos para adorá-lo apenas em formas que os edificam (1Co 14.19). Mas a preocupação cristã com o meu vizinho está a um milhão de milhas de distância de um medo servil do homem – um medo que é em última análise, idólatra e que serve a mim, não que honra a Deus e serve ao outro. Assim, dado que é o propósito de Deus devermos louvá-lo “de todo o coração” (Sl 9.1; 86.12; 111.1; 138.1; Ef 5.19), é imperativo que nós lembremos a nós mesmos e uns aos outros regularmente que Deus realmente merece nosso louvor (Sl 7.17; 18.3; 147.1), que ele repetidamente exige nosso louvor (por exemplo, Sl 47), e que ele deseja profundamente o nosso louvor.
Esses lembretes são necessários para assegurar que o Deus que não reteve nada de nós, nem mesmo o seu único Filho, receba mais do que os restos de nossa atenção e as sobras de nossos afetos. Porque Ele merece, demanda e deseja o nosso louvor de todo o nosso coração, é nosso dever mais alto e nossa maior alegria dá-lo a ele.
2. Cantar ajuda-nos a orar
Talvez não tenha passado pelas nossas cabeças antes, mas cantar é (ou pelo menos pode ser) uma forma de oração. O livro de Salmos, mais uma vez, é o nosso principal exemplo, já que uma grande proporção dos salmos são, ou contêm, orações (por exemplo, Sl 3-8, 9-10, 12-13, 16-18). E se há uma coisa que sabemos sobre a forma como os salmos funcionavam na vida do povo de Israel, é que muitas dessas orações foram cantadas, como, aliás, foram feitas para ser. Além disso, como já notamos, elas também foram cantadas pelas igrejas do Novo Testamento (Ef 5.19; Cl 3.16; Tg 5.13).
Isso significa, então, que exortações para cantar salmos incluem mandamentos para cantar orações. O grande valor de cantar nossas orações é que a atividade de cantar nos ajuda a nos envolver com as dimensões emocionais das verdades que estamos dizendo, ou as petições que estamos orando. Em outras palavras, o canto desempenha um papel fundamental para nos ajudar a preencher a lacuna entre os aspectos cognitivos e afetivos da nossa humanidade e, como muitos dos salmos de lamento ilustram, para nos ajudar a processar a nossa dor emocional e assim trazer-nos a um ponto de louvor (por exemplo, Sl 3-7).
Cantar os salmos, então, é uma coisa muito poderosa de se fazer. Não só estamos orando enquanto cantamos, estamos orando palavras divinamente inspiradas. Cantar estas palavras nos ajuda a engajar e expressar não apenas as dimensões conceituais das verdades que estamos articulando, mas as suas dimensões emocionais também.
Mas, é claro, não temos de nos restringir apenas a cantar e orar os salmos. Não só existem outras canções bíblicas (e muitas outras partes da Bíblia que pode ser cantadas como orações), mas as próprias Escrituras não nos restringem a cantar e orar somente a Escritura. Desde que estejamos cantando e orando segundo a vontade de Deus (como revelada nas Escrituras), estamos em terra firme. Portanto, devemos nos sentir livres para extrair do rico patrimônio histórico de recursos musicais e litúrgicos desenvolvidos por gerações anteriores para nos ajudar em nossas orações. Isto, naturalmente, inclui muitas traduções parafrásticas e versões métricas dos salmos, bem como uma infinidade de hinários indo até mesmo a Isaac Watts.
Quando estamos cantando também estamos orando, quer percebamos quer não. Estamos pedindo coisas a Deus na música, tanto pessoal como corporativamente. No entanto, é claramente bom para nós estarmos cientes do que estamos fazendo e do que estamos dizendo, para orar e cantar com nossas mentes totalmente engajadas (1Co 14.15). Portanto, não se surpreenda se no próximo domingo o seu líder de culto introduzir uma canção, dizendo: “Levantemos nossas vozes juntas em oração enquanto cantamos essa próxima música,” pois muitas vezes é exatamente isso que estamos fazendo.
3. Cantar nos ajuda a proclamar
Além de ser uma forma de louvar e uma maneira de orar, cantar é também uma forma de proclamar. Nós tocamos neste ponto anteriormente no que diz respeito à dimensão horizontal de louvor. Meu foco aqui, no entanto, é no cantar como uma forma de edificação mútua. Pois as Escrituras revelam que a palavra vivificante de Cristo é ministrada dentre o povo de Deus não apenas pela leitura da Bíblia e pregação bíblica, mas também por cantar “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3.16).
Evidentemente, isso não significa que a palavra cantada deve eclipsar a palavra falada, ou que o canto deve substituir a leitura pública da Escritura e a pregação e o ensino (1Tm 4.13). Nem Jesus nem os apóstolos pregaram o evangelho cantando-o. Portanto, a palavra cantada não rivaliza com a palavra falada no ministério de pregação da Igreja, mas é projetada para funcionar como sua serva e complemento.
Não obstante, o canto da Palavra de Deus (desde que seja a Palavra de Deus sendo cantada) é extremamente importante e uma forma excepcionalmente poderosa de “ministério da palavra.” Este fato nem sempre tem sido adequadamente apreciado. De fato, alguns têm considerado canto congregacional como pouco mais do que uma maneira de esquentar as pessoas para que eles possam, em seguida, ouvir mais atentamente a leitura e pregação da Escritura.
Esta não foi a visão do apóstolo Paulo. Ele enfatizou fortemente a função de ensino do canto congregacional. Porque além de louvar e orar, quando cantamos juntos, nós estamos instruindo e exortando uns aos outros. Isto também é claro em Efésios 5.19, onde Paulo diz para falarmos “entre vós com salmos … hinos e cânticos espirituais” (cf. Cl 3.15-17).
Tal afirmação certamente torna o canto essencial para a vida espiritual e saúde da igreja. Longe de ser um exercício de alongamento das pernas antes e depois do sermão, é na verdade parte do sermão. É a parte onde todos nós pregamos, tanto para nós mesmos quanto uns aos outros. E o fato é, e é um fato humilhante para aqueles de nós que são pregadores, que as canções que cantamos são frequentemente lembradas por muito tempo depois de nossos sermões serem esquecidos.
Por: Rob Smith. Copyright © 2014 The Gospel Coalition. Original: The Role of Singing in the Life of the Church
Tradução: Guilherme Cordeiro
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[…] o que ele fez, e porque é importante. Que evangelho habite em nós ricamente através do canto. Cantar é o que nos ajuda a fazer isso e expressar isso. […]