Workshop canto parte 2 – Luciana Fratelli
3 de maio de 2019Brasa Church Music – Altar
6 de maio de 2019Pensei em escrever este artigo porque, ao longo dos anos em que leciono música, esta foi muitas vezes a situação que impulsionou alguns alunos a me procurarem para aprender canto.
Muitas pessoas são convidadas em suas igrejas a cuidar de cantores, porém nem todos se sentem aptos para esta tarefa. Devido à grande carência de pessoas qualificadas musicalmente, as igrejas pedem ajuda para os que consideram “mais preparados”, seja por terem uma boa postura de liderança, ou por cantarem um pouco melhor.
A má notícia é que fazer algo bem não qualifica ninguém pra ensinar. Ensinar porém exige conhecimento do assunto. Muitas igrejas se deparam com cantores extremamente talentosos mas que não conseguem compartilhar seu conhecimento com os demais, ou porque não sabem como, ou por simples falta de vontade. Nasce dessas situações os sentimentos de inveja e competição, rebeldia e o crescimento não acontece.
Nem sempre a culpa é do líder, muitas vezes o grupo não aceita a pessoa colocada, alguns por ciúmes, outros por incapacidade crônica de submeterem-se, sendo este um problema muito presente na igreja evangélica atual, mas isso é outro assunto.
Voltando à questão, alguns são então colocados nessa posição, de regentes ou líderes de um grupo vocal ou coral. Do que essa pessoa precisa pra realizar um trabalho com excelência, dentro dos parâmetros bíblicos? Enumerei alguns pré-requisitos que, se o líder não tiver, deve buscar imediatamente recursos para alcança-los.
Do que preciso para ser um regente?
1. Conhecimento bíblico:
Não é por acaso essa ser a primeira questão. Se você é um líder na casa de Deus, você precisa conhecer a Palavra. A falta de conhecimento das Escrituras tem alto impacto na escolha de repertório. Existe atualmente muitas canções com questões teológicas até mesmo erradas. Músicas que falam coisas que a Palavra não fala, e isso é muito sério. Cantar canções só porque algum músico famoso gravou, ou porque “bombaram” não é o melhor caminho. Toda escolha deve passar por um crivo, que é a Bíblia, e você pode fazer duas perguntas básicas pra que elas se encaixem em sua igreja:
1. É uma canção bíblica (está embasada nas escrituras
Sem conhecimento, não será possível detectar as heresias que algumas músicas trazem. Portanto, estude a Bíblia.
2. Ouvido desenvolvido harmonicamente
Significa que se o líder não consegue cantar uma segunda ou terceira voz com outra pessoa, fica impraticável tentar ensinar isso ao grupo. O regente precisa desenvolver o ouvido harmônico, e para tanto deve buscar aulas de canto que incorporem essa prática.
3. Tocar um instrumento harmônico
É imprescindível tocar qualquer instrumento harmônico, seja piano, violão ou banjo… o que for. O regente precisa conseguir acompanhar o grupo, e o conhecimento no instrumento complementa o desenvolvimento harmônico. Sem um instrumento também não é possível fazer a leitura das vozes em canções previamente partituradas para coral, o que nos leva ao próximo ponto.
4. Leitura musical
Eu sempre digo que um músico completo precisa ler partitura. Um músico que não sabe ler uma pauta se assemelha a um orador que não sabe ler. Ele consegue expressar o que deseja para os outros ouvirem, de forma momentânea, porém não registram e transmitem de modo duradouro, como um livro que pode ser consultado sempre que necessário. A música é uma linguagem e a melhor maneira de compartilhar é através da escrita.
Imagine que você precisa que um grupo de pessoas recite uma poesia de 30 linhas, porém para tanto eles precisariam decorar o poema inteiro, e isso só aconteceria com você falando e eles repetindo. Ah, sem esquecer que, antes de falar pra eles, você mesmo teria que ter decorado o poema, porque hipoteticamente não sabe ler…
Quão mais fácil seria se todos pudessem ler ao mesmo tempo o poema escrito? É exatamente assim, se você e o seu grupo aprendem a ler partitura. Mesmo que haja uma pequena noção no grupo, de quando as notas estão subindo ou descendo, se dividindo e unindo. Você no entanto deve ser capaz de executá-las, se não com a voz, com o seu instrumento.
5. Técnica vocal
Sem técnica o líder não consegue detectar quando algum cantor está fazendo algo prejudicial à sua voz. Também não consegue de forma eficaz ensiná-los a explorar melhor sua extensão vocal de modo saudável. A técnica permite ao líder perceber e trabalhar com as melhores regiões de voz de cada cantor, porém, um exemplo do que acontece hoje é: se a pessoa consegue segurar contralto, canta contralto, quem não consegue fica na melodia. Isso resulta em sopranos que perderam definitivamente seus agudos por cantarem grave demais, e vozes graves com fendas e calos por forçarem agudos sem necessidade. Muito cuidado com essa questão, ela é a principal causa de danos vocais nos cantores de igrejas.
6. Conhecimento em harmonia
Esse ponto é muito importante, se você deseja escrever seus próprios arranjos para o grupo. Muitos fazem divisão de voz intuitivamente, e isso é bom – quando está correto – mas não é suficiente. Se for necessário dividir esse conhecimento, como aconteceria? E quando as canções são rearmonizadas, como corrigir e melhorar os arranjos? E tem mais, em uma única harmonia há muitas possibilidades de aberturas possíveis, que podem ser exploradas com um pouco de conhecimento em formação de acordes e aberturas. Isso não é um pré-requisito mas com certeza é essencial que seja desenvolvido ao longo do tempo que se dedica a essa tarefa.
Bom, é isso. Espero que esse artigo ajude você que está diante desse desafio, trabalhoso porém muito gratificante, de preparar pessoas para entoarem canções de louvor na congregação dos Santos. Prepare-se e dedique-se sempre, e saiba quando delegar e procurar ajuda, para o seu crescimento e dos seus liderados.
Por: Luciana Fratelli