Impacto sertão Livre
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23 de janeiro de 2018
Uma das grandes dificuldades que encontramos em relação à música em nossas igrejas é a falta de recursos musicais, tanto de equipamento como de pessoas. A igreja atual criou um padrão de grupo musical com vários instrumentistas e cantores – incluindo geralmente bateria, baixo, guitarra, violão, teclado e alguns vocalistas – , e infelizmente, quando não temos todas essas peças do conjunto nos sentimos frustrados e incapazes de realizar um bom trabalho musical em nossa igreja local. O objetivo deste artigo é despertar você e sua equipe para realizar o melhor serviço de música possível com os recursos que possuem.
Quero partir de alguns pressupostos indispensáveis para que atua na área musical da igreja. Em primeiro lugar a música tem a finalidade principal de glorificar a Deus, e quando digo sobre a música não estou me referindo apenas à música tocada e cantada pelos músicos e cantores na plataforma, e sim à música oferecida em adoração a Deus por toda a comunidade dos santos. É de suma importância entendermos que nós, músicos que atuamos na igreja, fazemos isso com o objetivo de servir aos irmãos, para que todos, juntos, ofereçamos a Deus um genuíno louvor. Tendo este princípio em mente, entendemos que a voz musical principal não é a do líder de adoração e sim a voz de todo o povo. Existe uma quebra de paradigma aqui por causa da ideia que se desenvolveu na igreja no decorrer dos anos. Não estou com isso dizendo que o líder de adoração perde a sua função de líder e importância, mas não convém pensarmos além do que nos convém (Rm 12.3). Mas esse tema foge ao escopo deste texto, talvez possamos explorar este assunto em outro momento.
Diante disso, a nossa busca musical no ambiente do culto não deve ser de uma performance musical exuberante, de sonoridades complexas e muito menos de chamar qualquer tipo de atenção para nós músicos e nem para a nossa execução musical. Precisamos focar no serviço ao povo, entendendo que nossa função é acompanhá-los, como um sideman1 da congregação.
Em minha história como músico na igreja já enfrentei diversas situações e toquei em diversas formações diferentes. Hoje olho para trás e vejo que eu estava aprendendo com todas essas situações. E o aprendizado nunca acaba.
Recentemente nossa igreja local adquiriu um imóvel próprio. Isso é algo que realmente nos motiva e enche o nosso coração de gratidão a Deus. O problema do novo lugar é a acústica, que eufemisticamente não é das melhores. No dia da mudança ao começarmos a montar o equipamento de som e os instrumentos a preocupação começou. A sobra de frequências era demais no ambiente. Montamos a bateria, e nos primeiros testes, o terror. O som da bateria se tornou um grande estrondo dentro da sala. E o problema não era do baterista, que inclusive é um ótimo músico, com muita disciplina e sensibilidade. Tanta sensibilidade que no momento seguinte ele veio até mim e disse uma frase muito rara vindo de algum baterista: “Acho melhor não usamos a bateria, ficou barulhento demais”. Bem, foi o que ficou decidido, não teríamos mais bateria em nossos cultos de adoração. Mas, e agora? Por tantos anos utilizamos todos os instrumentos, criamos nossos arranjos para isso, esse é o padrão da música contemporânea nas igrejas, mas agora teríamos que mudar nossa forma de pensar e tocar.
No nosso primeiro culto no novo prédio, utilizamos apenas o piano e a guitarra acústica. Os arranjos tiveram que mudar, a forma de tocar teve que mudar, mas o objetivo não mudou. Iniciamos o momento da adoração com música e a experiência que tivemos como igreja foi surpreendente. O fato de termos menos instrumentos, e consequentemente, menos volume sonoro dos instrumentos fez com que a congregação, que agora talvez ouvindo melhor a sua própria voz, cantasse com mais vigor e entusiasmo. Ouvir a igreja cantando com fervor foi emocionante. O resultado foi muito edificante.
Mas agora, vamos tratar de algumas questões práticas. Ao diminuirmos o número de instrumentos, precisamos ampliar o que cada instrumento deve fazer. Como estávamos sem uma sessão rítmica, a guitarra se tornou responsável por estabelecer o andamento e o groove. Já o piano precisou resolver a falta do baixo. E assim conseguimos suprir todas áreas que são importantes numa execução musical. Decidimos também aumentar o número de vozes. Passamos a trabalhar com abertura de até quatro vozes, o que dá um suporte harmônico mais intenso para a congregação.
Alguns músicos e cantores sentiram falta de uma marcação rítmica mais saliente, então decidimos introduzir um cajón2. Então agora teremos piano, guitarra, cajón e quatro vozes como formação padrão. Mas nada nos impede de experimentar outras formações, como já temos planejado, como violão, guitarra e percussão, ou, piano baixo e percussão, etc.. Em uma das reuniões que tivemos utilizamos apenas o piano e as vozes, e isso não se tornou um impedimento, ou uma diminuição da grandeza do momento em que a igreja se reúne para cantar ao Senhor.
Talvez você possa ler este artigo e achar que não pôde aprender muito com ele. Que este é resultado de uma experiência particular de nossa comunidade. Não poderei discordar de você nesse ponto, mas como disse no início, o objetivo era desafiar os músicos e cantores da igreja a não se limitar ao que foi estabelecido como padrão musical nos dias de hoje. Paulo e Silas cantaram ao Senhor naquela prisão e não tinham um time de músicos maravilhosos os acompanhando (At 16.25).
Vamos colocar como padrão para a música na igreja a beleza da execução com simplicidade. A singeleza dos acordes com a contrição do coração. A harmonia das vozes com unidade do Espírito. A dinâmica da intensidade como resultado da revelação de Deus em sua Palavra.
Ministrando com Poucos Recursos
Notas:
1. Sideman: termo da língua inglesa que diz respeito ao músico que acompanha um cantor ou outro músicos em concertos musicais.
2. O Cajón é um instrumento de percussão de origem peruana, que ultrapassou as fronteiras do Peru e é utilizado para expressões musicais de diferentes culturas. Ganhou muita notoriedade na música flamenca.
Por: Samuel Fratelli