Adoração e Afirmação – Malcolm Duplesis
7 de junho de 2018Brooke Vandervoort – Set a Fire
8 de junho de 2018“Tendo Jesus entrado no templo, expulsou a todos os que ali vendiam e compravam; também derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada Casa de Oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores.” (Mateus 21.12,13)
Neste texto vemos Jesus agindo de uma forma singular. Em todos os evangelhos vemos a figura do Cristo misericordioso, amoroso, compassivo, e aqui temos uma atitude tão drástica e enérgica que até parece destoar do resto de seus atos. Não que tenha sido errada ou exagerada, foi precisa e perfeita, como perfeito sempre foi nosso Senhor.
Mas bater com um chicote, virar as mesas com mercadorias e dinheiro, espalhar animais, e fazer tudo com tamanha autoridade à qual ninguém se opôs, mostra o valor que tem diante de Deus o princípio que os judeus estavam violando. E isto deve chamar nossa atenção.
Jesus deparou-se com muitos erros e pecados nos dias de seu ministério terreno, mas este parece ter sido um dos mais duramente repreendido. Portanto, há uma séria e importante lição a ser aprendida neste relato. Há um erro grave a ser evitado, e convido-o a refletir comigo nos princípios bíblicos por trás desta porção das Escrituras.
Durante muito tempo achei que o problema aqui era o comércio em si, mas quando examinamos o texto em seus detalhes, a acusação de Jesus contra aqueles homens parece ter dois enfoques principais:
1. Uma distorção do propósito divino para sua casa – ser um ambiente de relacionamento genuíno com Deus (casa de oração).
2. O roubo de alguma coisa – uma vez que Jesus os chamou de ladrões.
Pense nesta frase de Jesus: “vós a transformastes num covil de LADRÕES”. O que esta em questão aqui não é necessariamente o ato de comercializar em si, mas o que ele significava.
O Senhor não estava repreendendo a ganância, nem tampouco os chamou de mercenários. A acusação não era contra ganhar dinheiro. Aqueles comerciantes tinham o respaldo das autoridades do templo e não estavam violando nenhuma das rígidas leis judaicas ou mesmo as romanas.
Portanto, é certo reconhecer que o roubo de que Cristo falava não era algo no reino natural, mas sim no espiritual. Tenho certeza que o roubo não era o “preço” pelo qual se vendia, pois se de um lado da barraquinha havia um bom comerciante judeu para vender, do outro lado o comprador também não era diferente, e isto sem falar na concorrência!
O quê, então, aqueles homens poderiam estar roubando?
Precisamos de uma volta ao Velho Testamento e à compreensão dos princípios da lei mosaica a fim de entender o que estava acontecendo. A Bíblia faz menção de animais sendo comercializados no templo, e esta era a principal mercadoria ali.
Mas o que estes animais faziam lá no templo? Qual a razão de estarem sendo mercadejados? Porque o comércio feito ali era principalmente o de animais?
É importante lembrar que o culto do período em que vigorou a Lei de Moisés era baseado nos sacrifícios de animais que se faziam no templo. Esta era a principal ocupação dos sacerdotes, como podemos perceber nos livros de Êxodo e Levítico.
Basicamente, o animal mais sacrificado era um cordeiro, embora havia situações em que pudesse ser um bode ou até mesmo um novilho; outros sacrifícios exigiam a presença de aves, e estas eram também aceitas quando o ofertante não tinha posses suficientes para ofertar gado.
A ESCOLHA E PREPARAÇÃO DO ANIMAL
Deus esperava que os homens oferecessem a Ele o melhor animal. A palavra sacrifício aponta não só o derramamento de sangue do animal, como também o ato de abrir mão do melhor entre todo o rebanho. Houve períodos na história de Israel em que eles perderam este enfoque e o Senhor os repreendeu:
“O filho honra o pai, e o servo ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? Diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes, que desprezais meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo, e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais: A mesa do Senhor é desprezível. Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; caso terá ele agrado em ti, e te será favorável? Diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 1.6-8)
Deveria haver todo um cuidado na escolha e preparo do animal antes de levá-lo para ser sacrificado. Quando os israelitas começavam a fazer de qualquer jeito, Deus protestava!
O animal oferecido, em termos práticos e racionais, era perdido. Deus não o usava para nada e quem o ofereceu ficava sem. Muitos, nunca chegaram a entender que o propósito do sacrifício era justamente cultivar no coração o valor de Deus, como estando acima de todas as outras coisas, mesmo as mais importantes.
A entrega do animal em si, não tinha valor algum, mas o que ela significava para a pessoa. Não estamos hoje habituados com a criação de ovelhas, mas os donos se apegavam aos animais. Jesus disse que as ovelhas conhecem a voz do pastor e o seguem, e que este, por sua vez, as chama pelo nome (Jo 10.3).
Quando o profeta Natã foi repreender Davi de seu pecado, usou uma parábola palavra ilustrar o que Davi fizera, e descreveu nesta alegoria como alguém chegava a se apegar a uma ovelha que criava, como sendo um verdadeiro animal de estimação (2 Sm 12.3).
A beleza do sacrifício estava no valor que o animal oferecido tinha. Lembra-se do caso de Abraão, a quem Deus pediu seu filho Isaque em sacrifício? Deus não queria nem precisava de Isaque sacrificado, Ele só buscava a atitude correta no coração de Abraão, queria estar em primeiro lugar. Isto agrada o coração do nosso Pai Celeste!
E o que estava acontecendo no templo, nos dias de Jesus era exatamente o oposto. Ninguém mais se preparava para o sacrifício. Simplesmente deixavam para a última hora, quando chegassem no templo e compravam um animal qualquer. O culto perdeu seu significado, pois se tornou mecânico ao perder a sua essência: a preparação.
A ÚNICA EXCEÇÃO
A única exceção que vemos na Bíblia quanto a levar o animal preparado era a seguinte: Quando alguém que fosse subir a Jerusalém sacrificar ao Senhor e morasse muito longe, para não fazer toda a viagem com o animal, poderia vendê-lo e subir com o dinheiro (Dt 14.24-26).
Com esta orientação, o Senhor queria facilitar o trânsito do adorador apenas. Facilitar a viagem e nada mais. Ele deveria criar suas ovelhas, reconhecendo que a melhor do rebanho não seria dele e sim do Senhor. Então quando chegava o dia de subir o templo, ele se desfazia dela do mesmo jeito!
Mas os judeus distorceram este princípio. Em nome da facilidade, instituíram um sistema onde ninguém mais precisava gastar tempo na preparação do sacrifício, bastava comprá-lo de última hora. Por isto Jesus os chamou de ladrões. A única coisa que eles estavam roubando era A PREPARAÇÃO PARA O CULTO.
O momento do sacrifício não era o culto em si, somente o clímax de algo que já havia sido iniciado no coração do ofertante há muito tempo.
Talvez devêssemos nos perguntar porque Jesus ficaria tão incomodado com um estilo de culto que estava prestes a mudar. Em poucos dias Jesus seria crucificado, a Nova Aliança estabelecida, e o culto a Deus não mais se expressaria por meio do sacrifício de animais… Mas a verdade é que o Senhor Jesus não estava preocupado com a manifestação externa do culto, mas como aquilo refletia um coração indiferente.
E mesmo mudando o estilo da adoração, ele sabia que nós continuaríamos errando e tropeçando nas mesmas coisas. Então não perdeu sua chance de corrigir um pecado de sua época, e também de nos deixar um ensino importantíssimo: o valor do que oferecemos ao Senhor em nosso culto está intimamente ligado a nossa preparação para o culto.
Fico profundamente triste em ver como as pessoas vão para os cultos em nossas igrejas. Sem contar o fato que muitos chegam atrasados (o que reflete o valor do culto ou sua preparação), e não estou falando de cinco ou dez minutos apenas! O momento em que nos reunimos para cantar e orar ao Senhor, não é toda a expressão do culto, mas o clímax de toda uma preparação que já começou antes de sairmos de casa.
Mas muitos crentes passam a tarde toda de um domingo (e não estou santificando o domingo em relação aos outros dias, mas reconhecendo-o como o dia convencional de culto em que a maioria das pessoas não trabalha e poderia cumprir o que estou dizendo) na frente da televisão, se empanturrando com tudo o que vem da bandeja dos apresentadores de programas de auditório.
Outros estão ligados no esporte, mas não quero discutir a programação. O fato é que muitos passam a tarde toda na frente da TV e depois quando chega a hora de ir para o culto – e às vezes depois dela – saem correndo para a igreja sem sequer ter cultivado um tempo diante do Senhor. Estão com seu espírito totalmente desligado e insensível para a presença de Deus. E depois se perguntam porque não experimentam nada de diferente!
Deixe-me dizer-lhe que a presença de Deus não é como uma torneira que você abre e fecha a hora que quiser. A presença do Senhor não é como um interruptor que você liga e desliga a hora que bem entende com resultados instantâneos. Não! Para provar a presença do Senhor sua carne tem que morrer primeiro, seu espírito precisa estar desperto, sensível. E sabe o que eu acho mais engraçado?
A quantia que ouço de muitos irmãos (de minha própria igreja e de outras) que quando o período de louvor e adoração “está ficando bom” nós – os líderes – costumamos encerrá-lo!
Mas a verdade é que para alguém que se prepara antes do culto, que tira um tempo para orar, meditar na Palavra, se concentrar no propósito do culto, buscar a presença e intimidade do Senhor, a adoração está boa a partir da primeira frase cantada. A primeira oração já é poderosa!
Precisamos entender que o culto não fica melhor com seu andamento, nós é que nos despertamos para a presença do Senhor que estava lá o tempo todo nos esperando.
Muita gente não cultiva em seu coração expectativa alguma para o mover de Deus, e acaba não provando nada nos cultos.
A expectativa é algo que determina resultados. Quando Jesus foi para Nazaré, sua cidade, as pessoas olhavam para ele sem expectativa. Diziam: não é este o carpinteiro, filho de José e Maria? Em outras palavras, estavam dizendo que viriam ele crescer que o conheciam, e não esperaram muita coisa dele, o que fez o próprio Jesus afirmar que um profeta não tem honra em sua pátria (Mc 6.1-6).
O relato bíblico diz que Jesus NÃO PÔDE fazer muitos milagres ali, a não ser curar uns poucos enfermos. Isto me faz questionar porque Deus não tem podido fazer muitos milagres em nossos cultos, a não ser curar uns poucos enfermos… a resposta é óbvia: vamos para nossas reuniões sem esperar que aconteça. Não choramos e gememos diante do Senhor em intercessão, não exercitamos nossa fé, não o buscamos antes da reunião!
Mas se fizermos isto, se aprendermos a nos preparar para o culto, tudo será diferente. Já evoluímos bastante na nossa qualidade musical, mas retrocedemos na preparação. Os crentes antigos se preparavam melhor que nós antes do culto. Tenho saudade de quando era criança e chegava a uma igreja e muitos estavam de joelhos clamando pela reunião. Hoje em dia, na hora de começar a reunião você quase tem que tocar um sino para que a conversa pare.
Não estamos nos preparando para o culto. E achamos que basta cantar um pouquinho para que nosso Deus se agrade. Mas estamos errando! E a severidade com a qual Jesus nos trataria hoje não seria menor do que a que ele usou ao virar as mesas dos vendedores no templo.
Certamente se Jesus estivesse fisicamente aqui hoje e quisesse “arrumar” as coisas em sua igreja, nos consideraria tão merecedores de um chicote quanto aqueles cambistas judeus de seus dias terrenos.
Precisamos corrigir isto em nossas vidas se queremos mais da presença do Senhor.
Se queremos de fato agradá-Lo, precisamos entender que o culto não começa na oração de abertura, mas em nossa casa, bem antes da reunião. Em minha casa, temos o hábito de não assistir televisão aos domingos. Não porque isto roube nossa “santidade”, mas porque nos distrai, rouba a sintonia espiritual que deveríamos ter.
Muitas vezes gasto parte da minha tarde de domingo dormindo, e não só com leitura bíblica e oração. Mas quando vou para o culto, estou descansado e disposto, e isto faz diferença! Nas vezes em que me distraí, mesmo já conhecendo este princípio, o culto não teve o mesmo resultado que quando me preparei.
Meu irmão (ã), quero desafiá-lo em nome de Jesus Cristo a considerar e corrigir este princípio em sua vida. Virão dias em que provaremos um grande derramar de Deus em nossos cultos. Estão chegando dias em que veremos o Espírito Santo se mover de forma muito poderosa nas reuniões, mas tem que haver preparação. Tenho pensado muito ultimamente na frase de Josué:
“Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js 3.5).
Não há melhor forma de ver Deus fazendo grandes coisas em nosso meio do que preparar-se para isto!
Não sei o que tem sido seu ladrão da preparação do culto. Talvez fosse só o fato de ignorar este princípio. Talvez seja o jogo de futebol, seu mesmo ou de seu time. Talvez sejam os programas de auditório. Sei que entre os ladrões da preparação do culto a TV ganha disparado. Talvez seja outra coisa, mas você pode e deve mudar isto.
Alguns podem achar que estou espiritualizando demais, mas quando contextualizamos o que houve naquele dia lá no templo, não podemos chegar a outra conclusão. Experimente gastar tempo preparando-se para o culto e comprove você mesmo a diferença que isto faz. Mas não quero que conclua só na base do que foi bom para você. Além de ser bom para você, certamente o será para o nosso Pai Celeste que anseia pela comunhão conosco!
Por: Luciano Subirá