Conferência Livres 2017
12 de agosto de 2017FLUIRÃO RIOS | IMERSÃO 2 | DIANTE DO TRONO
20 de agosto de 2017Hinos antigos: a história da música cristã e a importância da unidade entre pais e filhos.
“…aprendam primeiramente a colocar a sua religião em prática, zelando por sua própria família e retribuindo os bens recebidos de seus pais…”
I Timóteo 5:4
1. NOSSOS PAIS DA ADORAÇÃO
Se eu perguntar de quantos sermões você se lembra, a resposta pode ser no máximo dez, quinze ou com muito esforço contar o número de vinte. Porém, se a pergunta se referir aos hinos antigos ou canções que você recorda, o número será bem maior. Não tem a ver com qual é mais importante: sermão ou os cânticos. Pois os cânticos são pequenos sermões que cantamos, então os dois tem igual importância no seu propósito específico. Eles fazem parte de uma primorosa herança que recebemos dos nossos antecessores, dos remotos e dos imediatos. Ao analisarmos a matéria em questão, iremos perceber a riqueza do conteúdo artístico, narrativo e por qual propósito eles serviram por anos. A nossa história cristã recente foi escrita com grandiosas obras musicais que inspiraram os passos de fé de todos os que vieram antes que eu e você.
. Não podemos negar a extraordinária influência que os hinos causaram em nossa cultura evangélica atual.
2. NOSSA RAIZ PROTESTANTE
É sabido que um pouco antes disto, na Idade Média, as pessoas não tinham acesso a Bíblia, por questões da linguagem, política e da religião. Entretanto, Martinho Lutero e Calvino aproximaram do povo a Mensagem de Deus traduzida em sua própria língua. Foi quando outros personagens se mobilizaram para musicar os temas dos sermões protestantes de forma que as pessoas pudessem cantar e também serem instruídas didaticamente em toda verdade que antes lhes eram negadas.
O culto protestante ganhou um formato que se repete até os dias de hoje, contendo oração, cântico e palavra. Lutero incentivou a igreja reformada dar lugar à criatividade na transcendência. É só pesquisar um pouco para perceber o grande legado que o nascimento protestante provocou em todos que tiveram contato com estes tesouros. O hino ‘Castelo Forte’, que é considerado o hino da reforma, foi composto em 1521, quando Lutero foi convocado para dar esclarecimentos ao imperador alemão Carlos V. Havia a eminência real e certa que fosse condenado à fogueira. Baseado no Salmo 46 que diz: “Deus é nosso refugio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.”
O impacto que os hinos causaram em nossa história se deve ao modo em que eles nasceram. A inspiração surgia do martírio, de sofrimentos profundos e elevado grau de espiritualidade alinhada à Bíblia. Daí nascia a estrutura poética com base na palavra de Deus mediante as experiências cotidianas, e também na elaboração cuidadosa na construção da melodia.
. Por isso, nós testemunhamos a razão desta herança tão gigantesca atravessar épocas e chegar até hoje, e ainda alcançará os anos que virão.
3. NOSSO LEGADO CLÁSSICO
No século XIX, surgem os hinos que conhecemos na Harpa Cristã, Cantor Cristão, Hinário Presbiteriano e outros. Naquele tempo, os cristãos dispunham da Bíblia em mãos e também um livro adjunto, contendo nossa mais valiosa herança de adoração em forma de cânticos produzida, o hinário’”. O que sentimos quando ouvimos hinos como; “Sou feliz”, “Grandioso és tu”, “Rude Cruz” e “Mais perto quero estar”? E o que dizer destes; “Brilho celeste”, “Alvo mais que a neve” e “Que doce voz tem meu Senhor.”?
Impactante, harmonioso, profundo e inspirador! É tão necessário que aprendamos com a unção residual depositada no corpo melódico e da escrita destes hinos como instrumentos de Deus para nos mostrar um padrão. Fora desta conduta é pecado de negligência e injustiça.
Engana-se quem pensa apenas em padrão de composição baseada em experiências realmente marcantes, não é somente isso. Refiro-me a unidade que houve entre as gerações antes de nós. Devo dizer que eles honraram seus antecessores, seus pais da adoração. Hoje somos contemplados pela obra que eles fizeram. É por isso que as próximas gerações somente ouvirão algo bom de nós, se reproduzirmos o mesmo comportamento de honra que os nossos pais tiveram com nossos avós da adoração. Nossos filhos da adoração estão aprendendo conosco sobre como eles irão nos honrar amanhã, se com reconhecimento ou com indiferença. Depende de como agirmos hoje, se os nossos netos da adoração ouvirão que um dia nós existimos ou da importância que tivemos como boa referência.
. Foram estes alguns dos fatores do sucesso desta geração; a sensibilidade, a resiliência, o bom testemunho e por cultivar um coração ensinável que o corpo de compositores e propagadores dos hinos clássicos obteve êxito na carreira da fé.
4. GERAÇÃO PÓS-HINOS CLÁSSICOS
Há algumas décadas passadas, quatro ou cinco, presenciamos a repetição do ciclo da Reforma, não um tipo de Reforma, mas um “ciclo”. Compositores, cantores e grupos brasileiros iniciaram um movimento musical semelhante àquele que os compositores no início do século XIX fizeram, ao invés de hinos com temas clássicos, agora com temas musicais característicos da nossa nação. Começaram a produzir canções que o povo pudesse memorizar e cantar e que transmitissem a nossa identidade pátria, com elementos musicais contemporâneos. Ainda que muitos grupos fizessem versões de cânticos de língua estrangeira, havia uma nacionalização geral nas canções que começávamos cantar.
Resumidamente, posso citar alguns nomes que iniciaram e participaram desse mover. Na década de 40, surgiu o cantor Feliciano do Amaral, na década de 50, Luiz de Carvalho, década de 70, Jayrinho T. Gonçalves e outros. Grupos como VPC, Som Maior, Coral Jovem da AFE, ELO, e outros na década de 70, influenciaram tudo o que os cantores e grupos fizeram nos anos 80 e 90. Se você conhece algum grupo ou cantor (a) que é sua referência e não está listado aqui, não é porque não foi importante, mas que não é possível mencionar muitos nomes.
Podemos dizer que estes foram os nossos avós e pais da adoração. Na década de 80, surge uma expressiva massa de compositores, grupos e cantores e cantoras que foram inspirados e influenciados pelos nomes que citei. Consequentemente, na década de 90, outras gerações de músicos impulsionaram outros músicos, e que fizeram nossa música de 2000 em diante.
5. O LEGADO PARA A GERAÇÃO SEGUINTE
Note que, se hoje fazemos música em nossas igrejas, é porque alguém começou. Durante a estrada da história, outras pessoas aprimoraram e repassaram o legado para a geração seguinte. Somos devedores aos nossos pais da música, eles aplainaram caminhos que possibilitaram abertura, a compreensão, a importância, o apoio, o mercado, e o padrão do que temos hoje. Embora tivéssemos pais incríveis, ainda esbarramos no perigo da relativização do louvor e adoração que fazemos. Não podemos ser ingratos e simplesmente dizer aos nossos pais da adoração: “o tempo de vocês acabou, daqui pra frente não vamos mais precisar de vocês, vocês não são mais necessários!” Ao contrário! Precisamos ainda muito de toda a bagagem e expertise que eles possuem.
Eles podem nos ensinar com a sabedoria que alcançaram. Alguns grupos e cantores têm resgatado hinos clássicos e canções das décadas de 70 a 80 como um veículo de expressão de adoração e louvor a Deus. Isso não é honra para nossos pais da adoração, mas um privilégio para quem resgata, pois estão fazendo o uso do legado que outros construíram. Resgatar um cântico ou hino é como caminhar por uma estrada já aplainada. Honrar é reconhecer a importância do padrão e levar a frente, imitar a fé, reproduzir este caminho para outros que virão.
. Imitar o cuidado, a seriedade, o compromisso que tiveram com aquela geração. Lembre-se que nossos filhos da adoração farão o mesmo conosco.
6. NÃO EXISTE AVIVAMENTO SEM HONRA
Nosso serviço, ministério ou chamado sacerdotal exige que busquemos um avivamento para a atual geração. A nossa sociedade se degrada por causa de pecados institucionalizados e pelos pecados socializados, “mas onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5:20), o avivamento pode germinar nesta sociedade onde o pecado é abundante, podemos usar uma arma perfeita, pois já foi determinado a superabundância da Graça! Não é somente a “sociedade lá fora” que precisa, porque além de sermos atingidos pela radiação do pecado, nós que somos ministros também precisamos – como o ar que respiramos – do avivamento da superabundância da graça, se não sucumbiremos de fome, sede e desespero. É uma questão de vida ou morte.
Por isso, cada geração é responsável pelo avivamento na sua geração, nossa adoração deve produzir os desejos de Deus, tanto no comportamento individual como no ofício ministerial. Sinceramente, não somos a melhor opção de Deus para mostrar sua glória nisto. Temos pecado gravemente negando o arrependimento, o quebrantamento e a confissão das obras de nosso cristianismo raso. O genuíno mover de Deus somente virá se combatermos o que está errado.
. Não existirá avivamento algum brotando nesta geração se negligenciarem um mandamento que é plural em todas as relações entre predecessor e sucessor.
7. HONRAR OS NOSSOS PAIS DA ADORAÇÃO
O primeiro mandamento relacional – uns com os outros – é: “Honra teu pai e tua mãe” (Ex 20.12). O apostolo Paulo invoca esse mandamento quando ele aconselha seus filhos, escrevendo cartas que orientava movimentos relacionais saudáveis, apenas dizendo o que está escrito, ou seja, declarando o que já está declarado. Por que esse mandamento se repete tanto na palavra? “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, porquanto isto é justo. “Honra a teu pai e tua mãe”; este é o primeiro mandamento com promessa, para que vivas bem e tenhas vida longa sobre a terra” Ef 6.1-3.
Não é apenas mais um mandamento do decálogo, mas uma necessidade da vida. É o primeiro mandamento com promessa e para que se prolongue sua vida sobre a terra. Quem não honra suas referências será esquecido, não prospera, não deixa semente. É muito triste saber que sinuosamente alguns hábitos satânicos interferem nas relações entre antecessor e sucessor. São discussões e criticas baseadas em opiniões subjetivas; “eu gosto disso” e “eu não gosto disso”. Como nosso “Eu” é insubmisso e rebelde! Honrar nossos pais da adoração independe do que o “Eu” obstinado e ingrato deseja ou acha. A adoração que está intrínseca a música, aquela que usa a música como veículo ou instrumento de expressão, segue o código da arte da sua própria época, e de época em época possui sua singular característica estética, histórica e cultural.
. Não existem frutos sem um galho, sem um tronco, sem as raízes.
8. AUTORIDADE DOS NOSSOS PAIS DA ADORAÇÃO
Honrar é obedecer, Deus conferiu autoridade a eles muito antes que nós. Enquanto nós nem existíamos, muitos deles já estavam carregando a arca nos ombros. Honrar também é desistir do ímpeto de criticar se algo neles nos incomoda, pois eles não são perfeitos assim como nós também somos igualmente imperfeitos. Honrar é desenvolver respeito por aqueles a quem Deus levantou para um propósito e conferiu a autoridade sagrada de pais.
O trono de Deus é estabelecido sobre autoridade, Ele não fica tão ofendido quando alguém o abandona, Ele se entristece muito. Contudo, Deus se enfurece quando alguém o desafia, pois quando desrespeitamos uma autoridade que ele instituiu é o mesmo quando resistimos a Deus cara a cara. Para Deus, uma autoridade delegada por Ele é como se Ele mesmo estivesse presente dando determinada ordem. Portanto, nossos pais da adoração estão revestidos de autoridade delegada por Deus, é como se o próprio Deus, em pessoa nos liderasse neste ministério de adoração.
. Eles possuem a insígnia específica de enviados legais e sagrados, ainda que se encontrem jubilados ou não exerçam efetivamente o ministério.
9. PAIS, NÃO PROVOQUEIS VOSSOS FILHOS À IRA
Não há somente regras comportamentais para os filhos, pois a palavra “honrar” que significa “dar valor”, também tem uma conotação de “por na balança”. Como na Bíblia, muitos filhos de reis honraram seus pais idólatras repetindo a idolatria no seu reinado. O filho precisa “pesar na balança” quais são as atitudes que ele deverá reproduzir no seu ministério. Significa dar valor ao que é louvável e não reprovável. Não é bom para o filho honrar pais impiedosos e desobedientes, repetindo consciente ou inconsciente os pecados deles. Conhecemos alguns maus exemplos, pais que se tornaram desobedientes, e outros que maltrataram seus filhos levando-os a amargura de alma e prejuízos de ordem física e emocional. Sempre deverá existir o perdão e a reconciliação.
Porém, aos pais, há um mandamento específico, e está no texto que diz, “…pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” Efésios 6.4. Quando é que provocamos os filhos a ira? A reposta é: com regras exageradas, com exigências abusivas, quando os pais falam rispidamente sem motivo, com excessivas reprovações, com castigos e punições desproporcionais ao erro deles. E também com disciplina severa, cruel e impetuosa. Muitos pais acham que é melhor pecar pelo excesso.
Semelhante desgaste ocorre quando é negado o reconhecimento dos esforços ou dos dons dos filhos. Muitos filhos são indiscutivelmente mais talentosos que seus pais. E o coração dos pais também pode haver ciúmes, e por causa desse sentimento uma atitude de injustiça ser cometida contra os filhos. Os pais têm o dever de reconhecer os dons e talentos dos filhos de valor, além de promover o crescimento e alcance do ministério deles, e não devem se sentir ultrapassados, sem valor ou desafiados como se houvesse uma disputa de poder ou de carreira.
10. UNIDADE DAS GERAÇÕES
Se hoje estamos aqui, é porque pessoas pavimentaram uma estrada para nós, elas não perderam seu valor porque aparentemente algo na arte delas parece superada e fora do tempo. Notamos em todos os eventos do Grammy Awards, que é o maior e mais prestigioso prêmio da indústria musical americana, que sempre há uma homenagem às bandas, aos músicos e cantores e produtores do passado que contribuíram para o desenvolvimento da música. E não é só isso, eles fazem também homenagens póstumas, as pessoas ligadas à música que já se foram.
É vergonhoso como nós lidamos com essa questão, somos muitas vezes indiferentes com nossos pais da adoração, aqueles que nos deram tanto pelo que realizaram no passado. Naquela época que não havia cachê, oferta programada, transporte contratado, hospedagem em hotel, direito autoral, e tantas coisas que hoje servem como parte do apoio que nossos ministérios de louvor e adoração necessitam. Hoje temos muito, e ainda há muito para fazer, precisamos gerar filhos, porque essa é uma grande e honrosa tarefa que Deus nos reservou, que é gerar e educar os seus filhos. Os filhos não são nossos, mas pertencem a Deus para sua glória.
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11. CONVERSÃO DO CORAÇÃO
O profeta Malaquias termina seu livro profetizando um evento maravilhoso que acontecerá: a conversão do coração dos pais aos filhos e da conversão do coração dos filhos aos pais (Ml 4.6.). O que faz pais e filhos felizes não é o lugar em que moraram, muito menos os bens que adquiriram, mas como ambos viveram as etapas e desafios da vida. A unidade das gerações é o tesouro mais precioso que temos. Não são as músicas que nós gravamos ou os arranjos que nós fizemos ou a multidão que ministramos ou o dinheiro que eventualmente nos proporciona sustento, mas o relacionamento que tivemos, é isso que todos nós levaremos consigo por toda a vida. Isto é o mais importante aspecto da história de pais e filhos dentre todas as outras coisas.
. Precisamos corrigir o conceito de unidade das gerações na presente geração.