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4 de dezembro de 2017Pra Sempre | Porque Ele Vive – Gabriel Guedes
6 de dezembro de 2017Tenho me deparado com uma questão muito comum em pessoas que querem cantar: a insatisfação com a própria voz. Algumas pessoas além de não gostarem do próprio timbre vocal, implicam também com a tessitura, e isto acarreta em muitos problemas físicos e psicológicos. Escrevi esta mensagem para esclarecer um pouco a questão e de algum modo ajudar os que passam por este impasse.
Um dos fatos muito importantes num cantor é conhecer a própria voz. Independente de gostar ou não, é necessário que a pessoa realize testes consigo mesma com o único propósito de saber a impressão vocal que possui. Um teste muito eficaz é a gravação. A voz gravada é a forma mais explícita que você pode encontrar de se ouvir. Não tem muito como se enganar neste aspecto, você escuta o que todo mundo escuta quando se ouve na gravação. Isso porque quando você canta, mesmo num microfone, você tem a referência do som externo (que entra pelos seus ouvidos) e interno (que passa pela sua zona de ressonância antes de sair pela sua boca). Acreditamos que esta soma de ressonâncias é a nossa voz – daí o fato de muitos se surpreenderem quando ouvem sua voz gravada pela primeira vez – porém, é aquele som da gravação, sem a interferência da ressonância interna, que é a nossa voz autêntica.
Não se assuste! Isto pode ser muito positivo. Se servir de consolo, ao longo dos quinze anos que leciono canto, eu particularmente nunca conheci ninguém que gostasse da própria voz (e me incluía nesta categoria até pouco tempo atrás). A verdade é que fatalmente a nossa autocrítica sofre muita influência da natureza humana – aquela que foi corrompida lá no Éden – e que em muitos casos sempre procura nos lembrar de que somos apenas seres em decadência – quando Jesus, lá na Cruz, restituiu todas as coisas e reafirmou que éramos e somos o melhor da criação de Deus. Com base nisto, quero falar sobre o primeiro ponto:
Deus desenhou as minhas cordas vocais. “Assim diz Deus, o SENHOR, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela” (Isaías 42.5).
Acredito que a maior dificuldade começa aí: a auto-aceitação. Deus praticamente esbanjou a Sua capacidade criativa fazendo-nos únicos em meio às eras de civilizações. E Ele não nos fez desta maneira porque o estoque de idéias estava escasso no dia que fomos gerados, pois “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das Luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17). Ele deu este som, esta “cor” vocal pra cada um, porque Ele julgou que isto era bom “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gênesis 1.31). Quero compartilhar um testemunho meu, muito simples, mas que sempre divido com meus amigos e irmãos vocalistas pois tratou muito com um sentimento de desprezo ao qual eu me submeti por muitos anos.
Eu canto desde muito nova – tenho um K7 gravado com apenas 4 anos de idade (alguém sabe o que é K7? Hehehe.. pra ver como faz tempo!). Os meus problemas pessoais começaram quando eu tinha 15 anos e cantava no ministério de louvor da minha igreja. Na época, na minha cidade, São Paulo, o soul e o black music estavam em alta – e este som ainda é muito forte aqui. Quando isto aconteceu, eu queria porque queria cantar igual às negras norte-americanas, e comecei a estudar com muito afinco, até que finalmente conseguia fazer aquelas “firulas” tão características ao estilo, porém faltava-me um único ingrediente: o timbre. Eu cantava e gravava, e nunca ficava satisfeita com o resultado porque o meu timbre era por demais “pequeno” e não tinha a “energia” necessária para causar o efeito que o estilo exige. Isto foi me irritando muito, e de um determinado momento em diante eu passei a desejar possuir outra voz, deixei de me aceitar como era e tentei, em outras palavras, ser outra pessoa.
Aos 18 anos eu tive um problema vocal muito sério causado pelo uso abusivamente incorreto da voz, e isto porque eu forçava além da conta simplesmente porque queria ter uma voz mais potente. Fiquei incapacitada de exigir mais dos sons de peito pois estava com uma lesão, caso eu continuasse daquela forma, eu ia ter um problema crônico em pouco tempo. Foi assim que parei de tentar cantar com outra voz, mas lá dentro de mim eu tinha um complexo imenso por não ser capaz de cantar da forma como eu julgava ser a melhor.
Passaram-se oito anos – vejam só, todo este tempo tendo problemas com auto-aceitação, e ministrando louvor, ensinando canto, trabalhando com coral, gravando e outras coisas mais – até que num congresso no qual participei ministrando louvor, uma pessoa que eu nunca havia visto chegou pra mim, após a reunião, e disse que Deus havia mandado que compartilhasse uma palavra, e era: “Pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas, mostra-me o rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e o teu rosto, amável” (Cântico dos Cânticos 2.14). Com este texto Deus falou comigo acerca de como Ele ouvia a minha voz. E outro texto que Deus mandou-o que compartilhasse comigo foi: “O seu falar é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu esposo, ó filhas de Jerusalém” (Cântico dos Cânticos 5.16). Ele trouxe estes textos e então Deus falou comigo: “Porque você se queixa daquilo que eu criei? Eu dei esta voz para você porque eu quero que as pessoas que cruzarem seu caminho tenham acesso à minha doce voz. Através de você, eu quero que conheçam a doçura das minhas palavras.”
Aquilo mudou minha vida. Naquele instante eu compreendi que eu não tinha que tentar ser outra pessoa, fazer de outro jeito ou considerar a minha parcela inferior, eu entendi que Deus tem muitas formas de manifestar-se, e cada um de nós somos escolhidos para revelar o caráter de Cristo em suas muitas formas. Alguns, Ele usa com ousadia, outros com voracidade, uns com energia e outros, com doçura. Arrependi-me de meus pecados e mesmo nos dias de hoje, quando este sentimento auto-comparativo que nos leva adequar-nos ao que parece “melhor” ou “superior” tenta crescer dentro de mim, eu me lembro disto: Como Deus quer ser ouvido através de mim? E fico em paz, grata por poder cooperar com uma pequena parcela nesta missão de ser os lábios de Cristo na terra.
Então, amado, busque conhecer sua voz, e de alguma forma, tente apreciá-la como sendo criação de Deus.
Deus abençoe.
Por: Luciana Fratelli